07/07/21
Pneus carecas, equipamentos vitais quebrados, falta de equipamentos básicos de proteção individual. Estes são apenas alguns dos problemas enfrentados por profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o SAMU, em Santa Catarina. Antes de falarmos sobre as deficiências estruturais, precisamos explicar como funciona o trabalho destes profissionais.
O SAMU atua em Santa Catarina com dois tipos de ambulâncias. As Unidades de Suporte Básico, a USB, que são administradas pelos municípios, atendem ocorrências de menor gravidade e não contam com médico, somente enfermeiro e condutor. E as Unidades de Suporte Avançado, a USA, que são administradas pelo Governo do Estado, atendem aos casos mais graves e têm equipamentos semelhantes ao de uma U.T.I. hospitalar. As ambulâncias de Suporte Avançado contam com médico, enfermeiro e condutor.
Em Junho de 2018, o Governo do Estado assinou um contrato com a OZZ Saúde para operacionalização do SAMU, em Santa Catarina. O valor total do contrato é de 116 milhões e duzentos e quinze mil reais por ano. O contrato prevê a atuação de 21 Unidades de Suporte Avançado pelo Estado. Elas são divididas de acordo com a macrorregião. Na Nordeste, por exemplo, que compreende os municípios de Joinville e Jaraguá do Sul, são 4 unidades.
A equipe do SCC SBT percorreu o Estado e conversou com funcionários do SAMU, que trabalham em USA’s, e os relatos são preocupantes. Com medo, eles preferiram não se identificar. Um médico conta que é muito comum as ambulâncias estarem quebradas e fora de funcionamento. Algumas vezes, os profissionais têm apenas um veículo em condições. A reportagem completa será exibida no SCC Meio-Dia desta quarta-feira (6), a partir das 11h30.
Nossa equipe flagrou, em Jaraguá do Sul, uma situação que demonstra bem o problema. Duas viaturas de Suporte Avançado paradas em uma garagem dos Bombeiros Voluntários. No painel estavam placas que diziam: “Veículo em Manutenção”. Neste dia, apenas uma ambulância estava disponível para atender a demanda de mais de 1 milhão e trezentas mil pessoas.
“A gente tem que definir qual é o mais grave”, diz funcionário do SAMU
Em entrevista, os funcionários relatam que é raro poder contar com todos os veículos disponíveis.
“Quando isso acontece, a gente fica até feliz”, diz um deles. O funcionário ainda afirma que, em alguns momentos, eles precisam decidir qual ocorrência é a mais grave.
“O dia a dia é isso, ficar definindo qual que é a prioridade, porque falta ambulância mesmo”, diz o profissional. Perguntado se pessoas estão morrendo devido à falta de veículos, o funcionário conclui: “Sim, com certeza, morrem, sequelas… Acontece e não acontece pouco.”
Ambulância andando não é sinal de serviço de qualidade
Os profissionais contam que faltam itens básicos, como máscaras e aventais. “A gente tinha que entrar em um Pronto Atendimento e pedir ‘tu pode me empresar um EPI?’ e estamos no SAMU, em uma ambulância avançada”, conta.
A transferência de pacientes com Covid-19 também é responsabilidade dos profissionais que atuam da USA, do SAMU. Durante meses, uma das ambulâncias teria ficado sem ventilador, equipamento básico para a sobrevivência dos pacientes. Para realizar as transferências necessárias, os funcionários precisaram improvisar.
“A gente ia primeiro no hospital, pegava um ventilador e depois pegava o paciente e levava de volta com o ventilador do hospital. Tudo ventilador diferente, que a gente não sabia manusear direito, alguns paravam de funcionar no caminho. Ventilador parar de funcionar é um extremo que não pode acontecer.
Outro problema comum é a falha dos Cardioversores, equipamentos usados para dar choque em casos de parada cardíaca. “São equipamentos que eu não tenho reserva… Se não der o choque na hora que eu preciso, eu estou cometendo um erro médico”, conta um profissional.
Desmotivação dos profissionais do SAMU
“Está todo mundo sabendo faz tempo e não fazem nada”, lamenta um deles. “Quando a gente chega numa situação dessas, em que a gente tem uma falha estrutural, uma falha de gestão, é importante também citar o Estado pela inércia; a gente se sente incompetente”, relata o profissional.
Muitos dos funcionários da OZZ Saúde, que atuam no SAMU, conversaram com nossa equipe, mas tinham medo de se expor. Alguns chegaram a dizer que profissionais que reclamavam das condições chegaram a ser demitidos. “Meu pai, minha mãe, seu pai e sua mãe podem precisar do serviço e a gente conhece todas essas deficiências. A gente se sente muito mal e muito triste com tudo isso”, finaliza.
O que diz a OZZ Saúde?
Fomos até a sede da empresa, em Florianópolis, mas nenhum funcionário atendeu aos nossos contatos. A empresa emitiu uma nota. Veja a íntegra:
A OZZ Saúde vem por meio deste esclarecer que desconhece das informações apresentadas.
Somente nesta semana, mais de 20 pneus novos foram colocados em viaturas e realizamos todas as manutenções preventivas nas ambulâncias regularmente. Existem fatos isolados de quebra, devido a utilização acima da média em período pandêmico, onde a quilometragem das viaturas estão quase em seu limite previsto.
Desconhecemos o fato de que se é “escolhido” qual atendimento será realizado. Através da central de regulação, todos as chamadas são atendidas e reguladas por profissionais médicos, onde eles definem através do grau de urgência qual viatura será acionada.
A OZZ possui um controle de entrega de EPIs, onde podemos afirmar que nenhum colaborador trabalha sem seu devido material necessário. Temos comprovantes assinados pelos próprios colaborados que confirmam a entrega diária e semanal dos mesmos. Ressaltamos que é de ciência e responsabilidade do colaborador informar ao seu superior sobre a necessidade de reposição de EPIs.
É infundada a informação de que existe falta de ventiladores ou qualquer outro equipamento em viatura. Possuímos equipamentos sobressalentes em todas mesorregiões e somente uma viatura estaria com seu equipamento inoperante, caso um funcionário haja de má fé e não informe seu superior solicitando a troca do mesmo.
A OZZ Saúde reitera seus votos de dedicação e apoio a suas equipes do SAMU 192 e a população catarinense e se coloca mais uma vez a disposição da imprensa para quaisquer esclarecimentos, sempre em busca da verdade.
Informações da SCC Meio dia afiliada ao SBT